YOKOHAMA (JAPÃO) – Não é segredo para ninguém que o Japão é um país reconhecidamente caro para viajar. Quando se começa a pesquisar a respeito de hospedagens e transporte entre cidades, a conta dispara. O trem-bala, por exemplo, custa 29.100 ienes (cerca de R$ 1000) para o passe de sete dias. Os altos valores também valem para acomodação. Ainda que se encontrem alguns hostels mais em conta e Airbnb’s com preço razoável, no geral os custos se assemelham aos ingleses e australianos. Ou seja, o pesadelo de qualquer mochileiro.


Contudo, todavia, entretanto… Nem tudo são espinhos nos custos japoneses. Antes de ir à Terra do Sol Nascente, conversei bastante com um grande amigo que viveu lá por mais de cinco anos. Fazendo doutorado em Tóquio, sua vida era ‘dura’ como de qualquer estudante por esse mundo. Quando perguntei a ele dicas sobre a capital japonesa, ele não teve a menor dúvida e disparou:


– Nomihodai. Nomihodai é tudo o que você precisa saber para uma boa noite em Tóquio.


Mas que diabos é “Nomihodai”? pensei em voz baixa, aguardando a explicação. Nomihodai é resumidamente uma forma que os Izakayas japoneses (tipo um pub) utilizam para cobrar um certo valor no qual você pode beber à vontade por um determinado tempo. Existe ainda o Tabeihodai, que nada mais é que a mesma coisa, mas para comida.


Ficou claro que, apesar de se transportar e dormir caro, é possível beber barato, né?


Fomos eu, a Mari e o Rodrigo (meu primo querido que estava a trabalho no Japão) no mais barato dos Izakayas que encontramos na internet, o Kin no Kura de Shibuya. Chegando lá, ao pedir a mesa, disparei imediatamente – “We want Nomihodai”. O rapaz sorriu e tentou nos explicar que custariam 800 ienes por pessoa e que o “open bar” duraria duas horas. Aceitamos o acordo e nos sentamos. Ele explicou como deveríamos fazer os pedidos, por meio de um tablet acoplado à mesa.

Nomihodai em ToquioOlha aí a nossa cara de alegria com a possibilidade de beber barato. E isso ainda era no início da noite…


Fiquei com a impressão que eu poderia pedir apenas 3 drinks de cada vez e que novas bebidas só viriam quando os primeiros terminassem. O cara tinha dito que podíamos pedir qualquer coisa, ora bolas. Mas resolvemos arriscar, e de cara pedi três cervejas, um sake, três High Balls (um drink estranho de uísque e água com gás), e uma batata frita. E não é que três minutos depois estava tudo na nossa mesa?


Aí a porteira abriu, e enchemos a cara como se não houvesse amanhã. Gin&Tonic, uísque, mais cerveja, tomamos tudo que tínhamos direito. Nossa meta era pegar uma balada em Tóquio, mas queimamos a largada e não demos conta. Saímos do Izakaya e fomos ainda a um outro bar para fechar a noite, antes de pegar o último trem de volta para Yokohama, que era onde estávamos hospedados (a cidade fica a mais ou menos uma hora de trem do centro de Tóquio).

Mas alegre que estava, me esqueci de uma máxima dos metrôs de todo o mundo. O famoso “mind the gap” ou “cuidado com o vão entre o trem e a plataforma”. Enquanto a Mari e o Rodrigo estavam do lado certo esperando pelo trem, eu fui conferir se o metrô que estava parado do outro lado também poderia nos levar.


E não é que, não sei nem como, caí com uma perna entre… exatamente o trem e a plataforma. Foram alguns segundos de desespero até que a Mari aparecesse para me ajudar a tirar a perna dali. Os japoneses, todos muito discretos e educados, não deram a mínima para o meu fiasco, nem o segurança da estação se mexeu pelo desastre.

Ainda bem que saí dali a tempo e só tive que conviver com um roxo na perna por uma semana e as risadas intermináveis da Mari e do Rodrigo.